Que ideia! A exclamação certa para resumir uma história com implicações extraordinariamente virtuosas. Uma visão singular de “turismo experiencial” mistura-se com a valorização de locais esquecidos e a consequente recuperação de edifícios e estruturas de outra forma destinadas ao inevitável esquecimento histórico, social e económico. Os criadores são os “tolos de sempre”, Evelina Santaguida, professora de línguas de Dasà que emigrou para a América, e seu marido Harper, diretor. Apoiá-los-á no local uma associação activa criada para gerir a recepção, “Dasos Elios”, e uma agência de viagens de Chiaravalle.
Os “malucos”, a partir de seu canal no YouTube “Pasta Grammar” (no qual, com piadas espirituosas, preparam suculentas receitas italianas, seguido por quase 300 mil seguidores), há alguns anos vêm trazendo para o sul da Itália, e para Dasà e cidades próximas, hordas de turistas estrangeiros, ávidos por férias “alternativas”, imersos em realidades locais pequenas e não frenéticas. Onde possam usufruir de hábitos que são “normais” para os residentes mas “especiais” para eles. Podem saborear pratos bons e genuínos, participando ativamente na sua preparação. Querem conhecer o que o património paisagístico e arquitetónico oferece e estar em contacto com a natureza. Em suma, tal como Colombo, a América e outras partes do mundo querem redescobrir a Itália. Este mecanismo, já virtuoso por si só para a economia que gere, deu origem a outro virtuosismo: a compra de estruturas, residenciais e outras, para futuramente servir de habitação ou transformadas em B&B, para concretizar esta maravilhosa ideia de “ turismo experiencial”. Numa zona onde muitas casas estão desabitadas e muitos campos abandonados. Onde os jovens emigram e são “substituídos” pelos imigrantes. 4/5 dos americanos que compraram uma casa já o fizeram. Fizeram-no Eva e Harper, que adquiriram e estão reformando a pizzaria desativada, com casa anexa, que recebe turistas “experimentais” quando chegam a Dasà. Incrível. Já que os habitantes locais tendem a dar pouco valor ao que possuem. Mais surpreendente ainda – e aqui chegamos ao cerne da história contada – foi a aquisição “aleatória”, a título de empréstimo, de uma estrutura em Acquaro. Lagar de azeite da década de 1930: um raro, senão único, exemplo de arqueologia industrial que guarda no seu interior um precioso tesouro. Além do moedor, com carretel feito de pedras talhadas por artesãos locais. Além de um tanque e um forno, onde foram realizadas as diversas etapas do processamento. Para além da estrutura, está tão intacta como há mais de 90 anos (embora com as obras necessárias a realizar). Além de tudo isto, o tesouro é representado por uma prensa tripla de madeira (também feita por artesãos locais), onde o bagaço era espremido em pequenos sacos de cânhamo (alguns dos quais foram preservados intactos sem nunca terem sido utilizados). O que surpreende, além da integridade da estrutura, é a forma como quem a adquiriu tomou conhecimento dela. Na verdade, um simples comentário no Facebook foi suficiente para desencadear um mecanismo improvável, o que levou ao difícil contacto com o proprietário, residente em Bolonha (onde tinha consigo as chaves do site). Superadas as dificuldades, veio especificamente do local onde mora, mostrou a fábrica e, em poucos dias (não mais que 3), tudo estava concluído, com o início das primeiras limpezas e reformas. Eva e Harper planejam criar uma espécie de museu/alojamento para seus convidados estrangeiros. Os indígenas, a vila e toda a zona irão certamente apreciá-la, beneficiando de uma estrutura de louvável beleza e valor histórico. Uma ideia “louca”. Mas: “que ideia”!