Baía de Ngonia, com “Era uma vez no Domingo” o dia de celebração cheira a madeira e autenticidade

Em Milazzo o sucesso de “C’era una volta la Domenica” celebrou a Sicília dos sabores, da lentidão e da partilha. Uma história de terra e mar, entre pão, vinho e música sob árvores centenárias. No Ngonia Bay, um requintado hotel boutique com restaurante com vista para o mar de Tono em Milazzo, o domingo, 26 de outubro, foi um hino ao abrandamento, ao regresso para redescobrir o que realmente importa: o valor do tempo partilhado, da boa comida, do convívio autêntico. O evento, com o sugestivo título “Era uma vez no domingo”, foi o terceiro evento do ciclo “Outubro do sabor, da música e do vinho”, um projecto idealizado pelos irmãos Marco e Rachele Calabrese, jovens empresários da restauração que fizeram da valorização da excelência siciliana uma missão e uma visão. «Vivemos num mundo que corre rápido, que muitas vezes esquece a importância da lentidão», dizem.

«Com este projeto – continuam – quisemos devolver ao domingo o seu significado original: dia de encontro, de família, de simplicidade. Uma mesa posta, um copo de vinho e o prazer de partilhar histórias. A cena se abriu na parte superior do jardim da estrutura, local que hóspedes e funcionários chamam carinhosamente de “a floresta”. Aqui, entre árvores centenárias, luzes suaves e cheiro a lenha queimada, há forno aberto e churrasqueira – dois símbolos antigos de convívio, ferramentas que transformam a comida num ritual. É neste cenário bucólico que o chef Fabio Baudo e sua equipe recebem os convidados, entrelaçando gestos e palavras, descrevendo com paixão cada prato, cada ingrediente, cada escolha. Ao lado deles, Luca De Gaetano e Alessandro Donnis, gerentes de sala, guiaram os presentes numa jornada de degustação que se tornou um diálogo sincero entre quem cozinha e quem prova. Não é, portanto, um simples almoço, mas uma experiência imersiva, feita de histórias, sorrisos e sabores. Cada prato contava um pedaço da Sicília: o pão que vem do trigo, o vinho que amadurece ao vento, as sobremesas que preservam as memórias da infância.

Três figuras que corporizam a excelência artesanal e gastronómica da ilha deram corpo e alma a este domingo especial. O primeiro, Antonio Palana, padeiro de Fragipane em Milazzo, trouxe o seu pão feito com métodos antigos, massa fermentada e farinhas selecionadas. Cada pão é fruto da lentidão, da atenção e do conhecimento transmitido. «O pão é a base do convívio – explica Palana – é o gesto mais simples e humano que existe: parti-lo e partilhá-lo». Depois é a vez de Nino Caravaglio, produtor de vinho de Salina, uma das vozes mais poéticas do vinho eólico. As suas garrafas, fruto de um território batido pelo vento e pelo sal, acompanharam os pratos com aromas intensos e minerais. «O vinho é uma história de mar e terra juntos», diz Caravaglio, e «cada gole contém o sopro das nossas ilhas, a luz, o esforço, a esperança».
Para fechar o almoço, a mestria de Soccorso Colosi, pasteleiro do Gualtieri Sicaminò, guardião de uma arte da doçaria que é cultura antes mesmo do sabor. Sua cassata, decorada com habilidade e equilíbrio, trouxe lembranças e aromas de infância, lembrando os domingos de antigamente, quando cada fatia era uma festa.

Tudo foi acompanhado pela música ao vivo de Alessandro Panicola, que com seus sons bossanova e toques de violão tornou o ambiente leve, harmonioso, suspenso no tempo. As notas misturavam-se com o crepitar do fogo, o tilintar dos copos, as risadas que enchiam o ar: um concerto natural de emoções. O cenário teve curadoria de Luana Guidara, com flores naturais, num estilo simples mas extraordinariamente elegante, capaz de realçar a beleza autêntica do ambiente. Não foi difícil, olhando para os rostos descontraídos dos convidados, imaginar estar num conto de fadas contemporâneo, onde a beleza não reside no luxo mas na verdade dos gestos. Cada detalhe, desde os equipamentos rústicos e requintados até às luzes entre os ramos, falava a linguagem do equilíbrio perfeito entre elegância e simplicidade.

“Ngonia” em dialeto indica um recanto, um local de pouso, um refúgio. E a Baía de Ngonia, com a sua arquitectura sóbria e requintada, é precisamente isto: um local onde a natureza se encontra com a cultura, onde a tradição se mistura com a inovação. Desde o seu nascimento, a estrutura familiar calabresa optou por interpretar a sicilianidade num tom contemporâneo, sem trair as suas raízes, mas dando-lhes uma nova voz. Da cozinha ao design, do acolhimento à seleção das matérias-primas, tudo fala de uma ilha que não é um postal, mas sim uma experiência viva, vibrante, autêntica.
«Cada evento que organizamos – explicam Marco e Rachele – nasce da vontade de criar ligações: entre pessoas, entre sabores, entre territórios. A Sicília é uma terra de encontros e queremos ser uma encruzilhada.” O ciclo “Outubro do sabor, da música e do vinho” responde exactamente a esta filosofia: quatro eventos, recentemente concluídos, que entrelaçaram gastronomia, arte e território, unindo produtores, chefs, artistas e convidados numa única rede de beleza partilhada.

“Era uma vez no domingo” foi mais do que um evento gastronómico: foi um ato cultural, a demonstração de que há um público ávido por experiências autênticas, por momentos em que o tempo pára e os sentidos despertam. Uma forma, em suma, de afirmar que a qualidade não é um luxo, mas uma escolha diária; essa tradição não é nostalgia, mas uma raiz que nutre o presente. E é precisamente este o segredo da Baía de Ngonia: a capacidade de transformar um lugar numa história, um prato numa emoção, um domingo numa memória.
No final, entre aplausos e as últimas notas, os colaboradores manifestaram o seu agradecimento. «Gostaríamos de agradecer sinceramente a quem participou, a quem trabalhou nos bastidores, a quem acreditou neste projeto», afirmaram os responsáveis. «O sucesso deste “Domingo” mostra que ainda há vontade de autenticidade, de experiências que deixem a sua marca. “Era uma vez no Domingo” é apenas o início de uma jornada que continuará a valorizar a nossa terra e a sua extraordinária identidade.”
No final do evento, permanece um aroma a madeira, pão e felicidade simples. Um conto de fadas contemporâneo à beira-mar. Afinal, “Era uma vez no domingo” não é apenas um título sugestivo: é uma promessa. A de trazer de volta ao centro o valor do tempo, da comida e das relações humanas. Ngonia Bay conseguiu transformar um domingo comum numa história colectiva, onde cada pessoa, cada prato, cada nota musical tinha o seu espaço, a sua voz.

Felipe Costa