Imagine um lugar suspenso entre realidade e ilusão, onde os limites da época se dissolvem e as palavras se tornam ponte entre épocas e línguas teatrais. Este é o cenário imaginado por Gianfranco Quero e Paola Lucchesi No final do ano, o ensaio “Como gostamos e gostamos”, o show final do laboratório de teatro conduzido por Quero, que será encenado de graça amanhã e o dia depois de amanhã (17 e 18 de junho), a partir das 21h, no teatro de marinheiros e domingo, 22 de junho, às 18h45, no Horcynus Orca.
Um sonho teatral compartilhado
O título já contém e combina dois pilares de dramaturgia: “Então é (se você quiser)”, de Luigi Pirandello e “Como você gosta”, de William Shakespeare. Hoje, Pirandello e Shakespeare não poderiam se encontrar, exceto em um sonho. E, assim como em um sonho, neste trabalho teatral seus personagens, suas palavras e suas visões se perseguem, entrelaçam -se, ficam confusos. O resultado é um mosaico brilhante e surpreendente, feito de fragmentos, citações, diálogos e monólogos retirados das obras dos dois mestres do teatro mundial. Suas vozes, enquanto vêm de diferentes momentos e culturas, encontram uma harmonia inesperada, dando vida a uma linguagem nova e fluida e viva. O “Villa Degli Scalconati” como espaço de sonho que o cenário escolhido não é acidental: a villa Degli Scalconati pelos gigantes da montanha de Pirandello se torna o estágio ideal para sediar essa reunião imaginária. Um lugar que, por sua próprio natureza, recebe a fronteira entre arte e vida, entre visível e invisível, entre o ditado e o não dito. Aqui, os fantasmas dos personagens pirandellianos e shakespearianos se movem, finalmente livres para se contaminar, evocar, trocar máscaras e verdades.
Uma estrutura sem precedentes, uma experiência viva
O show se destaca por uma estrutura original e em grande parte sem precedentes: não é uma representação simples, mas um fluxo contínuo de gêneros e registros, onde a comédia se mistura com a poesia, e a tragédia é colorida pelo burlesco. Tons leves, mesmo irônicos, não desistem da profundidade: mesmo o arroz está cheio de significado, a leveza também se torna um veículo para reflexão. Os movimentos, os gestos, as expressões dos atores se fundem com o texto, ampliando seu impacto emocional. É um teatro que você olha e ouve com todos os sentidos.
O ponto de vista: o verdadeiro protagonista
Nesta composição rica e polifônica, não há borda clara entre o comediante e o trágico. Tudo gira em torno do ponto de vista: o de Shakespeare, o de Pirandello e o dos atores que dão vida às palavras. Os conceitos derrubam, as frases se perseguem, as frases se misturam com os sussurros. É um jogo sério, um sonho lúcido em que o público é chamado a participar, refletindo, emocionante, surpreendendo -se. “Como gostamos e gostamos”, representa mais de um ensaio teatral: é uma homenagem ao poder da palavra, a força da interpretação, a beleza do teatro que vive e renovou. É o encontro entre dois genes, mas também entre dois mundos, duas visões, duas sensibilidades que, hoje, mais do que nunca, conseguem conversar conosco em uníssono. E também é a confirmação de que o teatro, quando é verdade, não tem tempo ou limites, mas apenas vozes que continuam a ressoar.