França, Lecornu rumo à “confiança”: a votação hoje

A sobrevivência do governo de Sèbastien Lecornu será decidida por poucos votos. A câmara da Assembleia Nacional vai analisar e votar hoje, a partir das 09:00, as duas moções de censura ao executivo apresentadas pelo Rassemblement National e pela La France Insoumise. No papel não há números para desconfiar de Lecornu. Os votos combinados de RN, LFI, Ecologistas e Comunistas não chegarão à maioria absoluta de 289, e os votos a favor da censura, se todos os deputados seguirem as indicações do partido, deverão parar em 265, 24 a menos do que a maioria necessária para derrubar o executivo.

Mas também existem armadilhas. Alguns deputados socialistas, “pelo menos três” dos 69 segundo o secretário do partido, Olivier Faure, já anunciaram que votarão pela desconfiança em Lecornu, assim como se pode ver algum descaso entre as fileiras dos republicanos e do bloco macronista que digeriu mal a decisão de Lecornu de dar um passo atrás na reforma das pensões, a bandeira do mandato de Emmanuel Macron.

Os socialistas, depois de terem aproveitado a abertura do primeiro-ministro sobre o adiamento da altamente contestada reforma da segurança social aprovada em 2023, deixaram claro que não votarão pela censura, sem o declararem explicitamente. Mas o partido já colocou em cima da mesa outro pedido que poderá fazer vacilar a frágil ‘maioria’ enquanto a Assembleia se debate com o debate sobre a medida orçamental, nomeadamente o imposto sobre os ‘super-ricos’, uma medida detestada pelos centristas da área de Macron e pela direita moderada dos republicanos.

A esquerda radical de La France Insoumise, com ecologistas e comunistas, pretende derrubar Lecornu votando por sua própria iniciativa, enquanto a extrema direita do Rassemblement National pretende votar tanto por sua própria iniciativa como pela de LFI, a fim de evitar que Lecornu permaneça em Matignon. O Partido Socialista, o grupo Liot e os Republicanos não votarão pela “não confiança”, enquanto os grupos macronistas não deram instruções claras aos seus deputados, mas o seu voto, salvo deserções, é considerado um dado adquirido.

Os centristas do Horizons também estão em apuros. A vice-presidente do partido, Christelle Morancais, declarou que se fosse parlamentar teria votado “pela censura ao governo, que está vendendo o futuro do povo francês no altar dos interesses partidários”. Uma posição que, no entanto, “não vincula o partido”, esclareceu a comitiva do líder e ex-primeiro-ministro E’douard Philippe.

No entanto, muitos parlamentares acreditam que mesmo que o governo sobrevivesse à votação de censura de amanhã com uma margem de cerca de vinte votos, o orçamento ainda teria de ser aprovado, um caminho cheio de armadilhas para a sobrevivência de Lecornu. Se o governo não cair amanhã, “não durará muito”, prevê Marine Le Pen, que prevê a dissolução da Assembleia “dentro de três semanas ou três meses”.

Felipe Costa