Guerra na Ucrânia, Moscou responde a Macron e Cameron: “Palavras perigosas, há risco de escalada direta na Europa”

O avanço do exército russo na Ucrânia e as dificuldades enfrentadas pelas forças de Kiev estão a fazer com que as tensões entre Moscovo e os países ocidentais aumentem para níveis alarmantes. O Kremlin alertou que existe o risco de uma “escalada direta” depois de Presidente francês Emmanuel Macron voltou a evocar a possibilidade de enviar tropas e o Secretário de Relações Exteriores britânico, David Cameron considerou permitido aos ucranianos usar armas fornecidas por Londres para atacar o território russo. Numa entrevista ao semanário Economist, Macron disse que o Ocidente deveria considerar o envio de soldados para a Ucrânia, caso os russos rompam as linhas. Uma possibilidade de que já tinha falado em Fevereiro passado, encontrando reacções negativas por parte dos aliados da NATO, a começar pelos EUA. Também hoje, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, reiterou a oposição de Itália: «Sempre dissemos que não estamos em guerra com a Rússia e por isso não enviaremos soldados italianos para lutar na Ucrânia», esclareceu o chefe da Farnesina. Em comparação com há três meses, as condições das forças ucranianas pioraram, mostrando claramente a escassez em termos de armamentos e de homens face ao progresso das forças russas. Desde o início do ano, disse o ministro da Defesa, Serghei Shoigu, as tropas de Moscovo conquistaram cerca de 550 quilómetros quadrados de território, particularmente em Donbass, e agora continuam a “penetrar nas fortalezas ucranianas ao longo de toda a linha de contacto”.. Não é por acaso, portanto, que Macron tenha voltado a falar sobre a sua proposta, levantando explicitamente a hipótese de um colapso das defesas de Kiev e alertando Moscovo contra a tentativa de tirar vantagem disso. As palavras de Macron são “muito importantes e muito perigosas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertando que Moscovo continua a “monitorizar de perto” as declarações de Paris, mas também as de Londres, depois de ontem o ministro Cameron, numa visita a Kiev, ter dito à Reuters. que a Grã-Bretanha não só concordou em fornecer três mil milhões de libras por ano em ajuda à Ucrânia “enquanto fosse necessário”, mas também que os ucranianos “têm o direito” de usar tais armas directamente contra o território russo, uma declaração que para Peskov representa o risco de uma “escalada direta” entre os países ocidentais e Moscovo, e que “poderia representar potencialmente um perigo para a segurança europeia”.

Precisamente os ataques em território russo, até agora realizados principalmente com drones, são a resposta em que Kiev tem confiado para tentar lidar com a situação dramática no terreno. Agora poderia tornar esses ataques mais letais através da utilização de novas armas, em particular os mísseis balísticos Atacms fornecidos pelos EUA. Há dias que circulam rumores entre as autoridades russas e nos círculos diplomáticos de Moscovo sobre possíveis ataques à ponte da Crimeia sobre o estreito de Kerch, que une a península anexada em 2014 ao território da Federação Russa, já atingida por um ataque em 2022. Dirigindo-se à porta-voz do Ministério das Relações Exteriores dos EUA, do Reino Unido e da UE, Maria Zakharova, alertou que tal ataque receberia uma “retaliação avassaladora”. E sublinhando a gravidade do momento estava a notícia dada por Moscovo sobre o sobrevoo de dois bombardeiros estratégicos russos Tu-95MS sobre as águas internacionais do Mar de Bering, perto da costa ocidental do Alasca. Os ucranianos também estão em alerta máximo para possíveis novos ataques em grande escala por parte das forças aeroespaciais russas. O jornal Kyiv Independent escreve que as autoridades aconselharam os cidadãos a não irem à igreja durante as celebrações da Páscoa ortodoxa de domingo e a não seguirem o serviço religioso online por medo de bombardeamentos. Hoje duas pessoas morreram e outras duas ficaram feridas num ataque russo na cidade de Kurakhovo, região de Donetsk, segundo as autoridades locais ucranianas. Enquanto uma mulher morreu num atentado bombista em Kharkiv, no nordeste do país. Na região russa de Belgorod, porém, um depósito de gás pegou fogo e duas pessoas ficaram feridas em novos bombardeios das forças ucranianas com drones kamikaze, segundo o governador, Vyacheslav Gladkov.

Felipe Costa